Agradecimentos



Gente, queria deixar com vocês minhas impressões finais.

Da sala de ensaio para o teatro foi uma longa experiência. É muito difícil realizar o que vocês fizeram. Quantos processos criativos começam nas salas de ensaio e vão além do semestre em que estreiam?

É muito difícil manter o foco e um interesse em comum.

Desde a primeira versão de mâney, porém, as coisas foram diferentes. A partir de provocações minhas e do Café, vocês foram se juntando como grupo e querendo fazer algo além da sala de ensaio.

A primeira apresentação tinha muito dessa energia dos encontros, que em si eram maravilhosos, se bastavam. Quando a gente sai de nós mesmos e vai pra outras pessoas as coisas começam a mudar. Pois o que faz sentido pra cada um ou dentro do grupo não é relevante ou não toca os outros. Como eu comentei à época, o nosso trabalho é o fruto de 40 dias mais ou menos intensos. Isso gerou algumas coisas: a participação da turma era desigual: alguns compraram a proposta mais que outros, pois alguns se comportam como alunos e outros querem ser artistas. O resultado final foi uma intensidade coletiva desigual, forte em alguns momentos, mas ainda demonstrando que era necessário aprofundar a qualidade das ações. Ou seja, mostramos muitos materiais, que era fruto de 40 dias apenas, e que tinham seu potencial. Pra mim, como eu falei na época, adorei ter voltado a trabalhar com gente ao vivo, depois da pandemia. Sou muito agradecido pra sempre por aquele semestre, de ter conhecido vocês e ter tido aquele gostinho de lidar com algo próximo do que durante anos tive com o Hugo. Muito emocionante. Além de conhecer vocês.

Independentemente das limitações da primeira versão do Mâney, a comprovação de que muita coisa boa foi gerada está no semestre seguinte: a turma de teac lotou, pois quem viu gostou, queria fazer algo parecido. A turma lotou, mas muita gente foi na onda: viu o resultado mas não se aplicou muito no processo. Daí termos um semestre meio sem sal, com muita gente sentada ou faltante no lugar de participar dos treinamentos. Mesmo assim, o grupo que participou de Maney 1 continuou a se reunir e depois disso fez o edital e fomos pra uma nova etapa.

Eu deixei de participar entre Mâney 1 e Mâney 2 pois é muita aula, burocracia e pesquisa. Não tive tempo.

Com a possibilidade de um compromisso, por causa do FAC, as coisas mudaram. Pra mim, essas coisas de editais são isso: processos criativos com prazo, com cronograma, com necessidades de se apresentar pro público.

Aí que vem digerir o que fizemos, pelo menos do meu lado. Quando fui convidado para intervir no roteiro, me vieram algumas coisas que no FAC 1 não pudemos fazer. De fato, não havia uma dramaturgia global: tudo eram cenas isoladas, esquetes, cenas para cada um mostrar suas qualidades, ter tempo para experimentar e aprender. Lembro que, provocado pela situação da época, escrevi uns textos para o recital que organizei com músicas e poemas para o Hugo, mostrando a saudade junto com a indignação. Havia voltado a escrever um tipo de texto que chamo de "prosoema": é escrito em versos, para marcar o tempo de dizer uma fala sem pausa, e não pra aquela cantinela de batatinha quando nasce. Então o prosoema é uma disposição gráfica da fala em performance. V. https://periodicos.unb.br/index.php/dramaturgias/article/view/46500/35591 .

Esse recital, Eu luto (luto de tristeza, luto de lutar), foi a minha volta pra cena, mostrando coisas para as pessoas. Isso foi em 1/09/2022, às 20:00, na sala BSS59, e no dia 23/09/2022, no Anfiteatro 09.

Quando voltamos com o Teac em novembro de 2022, eu estava aprimorando essa necessidade de escrever e tocar. Daí escrevi os textos que mostrei em janeiro de 2023 pra vocês. Eu conversa sempre como Café, e sentimos a necessidade de não só treinar sem palavra, mas ir inserindo textos. E o tal do blog veio junto. Pra quem não viu, publicamos tudo desse semestre 2022/2023: V. CAFÉ, Flávio & MOTA, Marcus. $MâneY$ (2023). Documentos do processo criativo. Dramaturgias, n. 22, p. 129–178, 2023. link https://periodicos.unb.br/index.php/dramaturgias/article/view/48289

O que eu sentia agora a partir do compromisso com o FAC: era organizar a cena. No início, havia algo muito ligado a um programa de televisão a um show de calouros meio Sílvio Santos/ Faustão. Essa cola vinha muito solta e ainda reproduzindo nossos hábitos televisivos em vez de ser uma crítica. Daí, sob o impacto da figura de Trump e suas taxas, tive a ideia de fazer a cola entre os esquetes a partir de colocar em cena um opressor. Para tanto, peguei textos de discursos do cara.

Outra coisa que fiz foi editar as cenas que foram criadas pelos performers: a do Wandergay (Wander Mendes) era bem interessante, mais enorme, dava um espetáculo só para o cara. E a dos morangos (SUDRÉ) estava precisando sair da narrativa.

A questão da narrativa foi pra mim importante: não dar a liga do espetáculo em uma historiazinha. E sim jogar com as narrativas que o público tem, que nós temos também.

A questão do boizinho, na primeira versão pra mim, era meio incômodo: era um texto de que eu gostava muito, mas que, pela falta de tempo, foi feito com altos e baixos. Agora, na segunda versão, com mais tempo, virou um grande número musical. Parabéns ao Coração e à direção musical.

Sobre a direção musical e músicos em cena (Caléo e Cassio Oliveira), olha, ficou muito boa, com excelentes intervenções e arranjos. A gente sabe que é difícil fazer musical, pois tem que ter gente que toca e canta, e arranjos para a cena. É a cena mais bem organizada do espetáculo, pois o arranjo organiza a cena, tem que sincronizar, tem que trabalhar bem a relação do cantor com o coro, os movimentos em cena, etc. Isso dá trabalho.

Eu, lógico, sinto muito falta da cena/texto que muito me deu alegria de escrever, a mais explícita cena antidireita/milico, que era a cena/texto que o Lucas Fonseca fazia. Uma pessoa veio me falar, depois de ter visto a primeira apresentação, que algumas vezes o espetáculo esbarrava nessa questão do cômico e do sério, que tinha uma coisa crítica que logo era substituída por algo cômico, que faltava tempo para que o sério se impusesse em alguns momentos. Eu creio que aquela cena faz falta, mas entendo que o espetáculo sem ela funciona, principalmente depois de ver o segundo dia.

A estreia foi ótima e não caiu no segundo dia, o que geralmente acontece.

No dia da estreia, como eu não fui aos ensaios, mesmo vendo alguns dos vídeos no blog, eu estava na condição de plateia. E sempre me coloco assim, mesmo quando estou dentro do processo criativo. Foi com alegria que vi a abertura, forte, lembrando de vocês e agora vendo tanto trabalho enfim sendo oferecido ao público. Depois a cena do Ander, figurino ótimo, agilidade em brincar com o público. Depois quando a Bárbara/Trump entra, senti uma coisa que fui falar depois com vocês ao fim do espetáculo: o som, não dava pra ouvir, volume. Principalmente por causa da bosta da acústica da sala. Aquela sala é um cemitério de atores falantes. E a Bárbara estava cansada/gripada.

Parêntese: Bárbara foi a máquina que carregou esse trem. Todos nós sabemos das dificuldades, do golpe, impressionante como em um espetáculo nomeado Mânei e sobre a cobiça, passamos por isso. Maney na teoria e na prática. Bárbara, baita atriz e mulher de raça!

Voltando: a cena do anti-casal ficou ótima: a sensualidade e ironia a mulher com a confusão e clareza do homem. Essa mulher arrasou (Lis Piantino), e esse homem foi surpreendente (Gabriel Mota) !

Na segunda apresentação Bárbara e todos que tinham fala estavam mais ligados no volume. A cena da louca religiosa (Talita Rangel) foi diferente nos dois dias. No primeiro dia, inesperada, vindo da plateia, mas pouco audível. No segundo dia bem melhor.

A figura do protetor dos morangos foi show visual nos dois dias. E nos dois dias aquele medo do cara cair.

A cena do chapéu foi emocionante e surpreendente: como assisti os dois dias, foi muito bom ver e ouvir a interpretação de quem eu não estou acostumado a ver falando ou fazendo algo mais lírico. Parabéns aos dois intérpretes (Sofia Sampaio e Ander Keller).

E, ao fim, parabéns ao meu companheiro Flávio Café, que regeu essa troupe de loucos com mão firme e sorriso aberto. Muitas soluções visuais super interessantes, e destacado trabalho com o grupo e com a qualidade dos intérpretes.

Saí bem feliz. E agradecido.

Enfim, parimos.

beijos














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